Dizem quer isso ainda acontece, mas vou contar apenas o que
Seu Gelci, da Enseada de Brito, em Palhoça, tem na lembrança. Na época do ano
em que mudam as estações, as bruxas de Florianópolis costumavam se reunir ma
praia do Bairro Itaguaçu, no Continente, pra prestar satisfações ao chefe: o
Coisa-Ruim. Belas damas da sociedade iam chegando e revelando suas identidades
bruxólicas na medida em que pisavam na areia da praia. O encontro começava com
cada uma beijando o rabo do pé-cascudo. Em seguida, passavam o relatório das
maldades feitas e diziam as que planejavam fazer (enrolar a rede de pescador,
dar nó na roupa do varal e até roubar crianças). E o Diabo ali, no centro das
atenções, respeitado por elas e ouvindo tudo. Depois da reunião, quando o
capeta ia embora, as bruxas ficavam contando os causos de suas vidas como
mulheres normais. Uma delas, sócia de um clube da alta sociedade (que existe
até hoje), começou a se gabar do baile que tinha ido. “Eram muitos vestidos
lindos, luvas, penteados, homens bem-arrumados, orquestra...”. As outras bruxas
arregalavam os olhos de tanta vontade e não resistiram a tanta tentação.
Começaram a planejar uma festa igual. Uma até que lembrou: “Ei... tem que pedir
permissão pro Diabo”. A outra retrucou: “Não, não... ele fede enxofre. Vai
estragar a festa”. Pois bem, tomaram a decisão errada: fazer a festa sem avisar
o chefe. Numa madrugada de quinta para sexta-feira, ali em Itaguaçu, se
reuniram na praia, lugar bonito pra combinar com a vaidade delas, e começaram a
festança. Bem do jeito que era no tal clube: com luvas, vestidos, musica. Mas uma bruxa estragaria tudo. Essa tinha
guardado uma inveja sem tamanho da colega que vivia na alta sociedade e
resolveu avisar o Diabo. Chamou, chamou até que ele apareceu. Aí, ela cutucou;
“olha, elas estão fazendo a maior festa me Itaguaçu e nem te avisaram”. Num pialo, o cheiro de enxofre se espalhou
pela praia. O Rabudo apareceu e ralhou: “Tão fazendo festa escondida de mim?
Vão se arrepender pra sempre”. Balançou o tridente e transformou a bruxarada em pedra. O resultado da
maldição ta ali em Itaguaçu até hoje. As pedras que enfeitam a praia são as
bruxas que fizeram a festa. Aquela que entregou tudo pro Diabo também foi
castigada, pra deixar de ser fofoqueira.
Baseada na história
contada por Gelci José Coelho,
Morador da Enseada de
Brito, em Palhoça.
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