segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Os cabelos de Dalva


Dalva era uma linda jovem, moradora da Praia Comprida, em São José. Impressionava os homes com sua beleza. E tinha uma coisa que dava inveja a muitas mulheres. Pro terror dela, até bruxas se remoíam de inveja do dote: os longos e belos cabelos negros. À luz da lua, refletiam tons de azul de tão negros que eram. Ela passava pela rua, e todo mundo olhava pra trás para ver mais um pouquinho. No caminho, ficava aquele rastro de perfume dos cabelos. No homens, ficava a cara de tolo não entende tanta beleza. Mas, numa madrugada de lua cheia, se ouviu um grito do na casa da bela Dalva. Toda a família acordou. Até os vizinhos acordaram e correram, de lampião na mão, pra casa da jovem, saber o que era. Do quarto onde Dalva costumava dormir vinham berros e gargalhadas de mais de uma pessoa. A porta não abria, pela janela não se entrava. Quando o berreiro acabou, a mãe de Dalva foi a primeira entrar na peça onde dormia a filha. Quando entrou, Dalva já estava sozinha, sentada na cama, em estado de choque, nem conseguia chorar, e com os cabelos transformados em um emaranhado só. Tinha nó em tudo que é fio de cabelo da cabeça da Dalva. Entre os nós, muitos alguns pedaços de unhas compridas e sujas – mais pedaços do que uma pessoa poderia cortar das suas próprias mãos. Não tinha dúvida: era trabalho de mais de uma bruxa. Vizinhos tentaram de tudo, passaram óleo, cremes, mas os nós tinham um jeito impossível de desatar. Pura bruxaria feita por causa da inveja. Não teve jeito, Dalva teve que raspar a cabeça com a máquina zero e o cabelo, quando voltou a crescer, nunca mais foi o mesmo – nem tão negro, nem tão liso. Dalva já não chamava tanto atenção dos homens nem das mulheres. As bruxas estavam satisfeitas com a tristeza de Dalva e nunca mais atacaram a jovem.

* Baseado na história contada por Gelci José Coelho,
morador das Enseada de Brito, em Palhoça.


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